(JB) _ – Uma das mais importantes vitórias brasileiras, no contexto geopolítico, nos últimos anos, foi a conquista da Diretoria Geral da OMC – Organização Mundial do Comércio, pelo diplomata Roberto de Azevedo, em dezembro do anos passado.
Diplomata experiente, trabalhando há anos na OMC como representante do Brasil, Azevedo e a equipe brasileira na OMC, já haviam colocado os Estados Unidos e a Europa de joelhos em outras ocasiões:
a vitória brasileira e a derrota dos EUA nos contenciosos do suco de laranja e do algodão – que ajudou muito países em desenvolvimento; a vitória do Brasil contra a União Europeia nos casos do açúcar e do frango congelado, e contra o Canadá, devido a subsídios ilegais (Embraer x Bombardier) à exportação de aviões.
Não satisfeito em derrotar de forma decisiva o candidato mexicano Hermínio Blanco, os EUA e a Europa, na sua eleição para a OMC, Roberto Azevedo alcançou, na semana passada, uma emblemática vitória, não apenas para si mesmo e para a organização que dirige, mas também para o Brasil, do ponto de vista diplomático e geopolítico.
Em um encontro da Organização Mundial do Comércio em Bali, na Indonésia, conseguiu destravar as negociações comerciais da Rodada Doha, que sofriam um impasse histórico há anos, e fez com que a OMC alcançasse o primeiro acordo global de comércio – um objetivo que era perseguido desde sua fundação, em 1995.
Depois de dias de difíceis negociações, quando o acordo caminhava para sua finalização, foi preciso enfrentar forte resistência da Índia, que não queria abrir mão de subsidiar sua agricultura, para garantir alimentos locais para a população mais pobre, e de Cuba, que, junto com outros países bolivarianos, exigia que os Estados Unidos levantassem o embargo econômico sobre seu território, como condição para assinar a declaração final.
No final do processo, ficou claro que nenhum outro país, ou representante, que não o Brasil – sócio da Índia no IBAS e no BRICS, e responsável pelo financiamento e construção do novo Porto de Mariel em Cuba – ou Azevedo, poderia remover as resistências indianas e cubanas e alcançar o mínimo de consenso necessário para se alcançar o entendimento.
Depois, as pessoas se perguntam por que o Brasil trata bem países como Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, ou outros, ainda menos favorecidos, do continente africano.
Não é apenas pelo fato de fazermos bons negócios -somos superavitários com a maioria deles – mas também porque é assim – com diplomacia, equilíbrio e inteligência – que se constrói e mantêm uma posição de liderança.
E, como vimos pelo acordo de Bali, assinado por 159 nações, uma forte influência global, o que não é pouco.